*No passado dia 21 de Julho decorreu o lançamento do livro “Sustentabilidade dos Olivais em Portugal – Desafios e Respostas”, da autoria da AGRO.GES e edição da Principia, promovido e apoiado pela Fundação Amélia de Mello. Face à relevância que o projeto Alqueva teve no incremento da área de olival moderno a nível regional e nacional, pedimos ao Engº José Pedro Salema, Presidente da EDIA, um pequeno comentário ao livro por nós elaborado, que publicamos de seguida.
A EDIA felicita a Fundação Amélia de Mello, no âmbito da Comemoração dos 150 de Alfredo da Silva, pela iniciativa de elaboração de uma publicação subordinada ao tema “A Sustentabilidade dos Olivais em Portugal”, desenvolvida pela AGROGES. Também pela importância histórica que um conjunto de empresas participadas pelos seus familiares, têm tido no desenvolvimento da olivicultura nacional, na sua modernização e na implementação de um conjunto de práticas referenciais na gestão dos modernos olivais e lagares.
O trabalho desenvolvido ilustra de forma clara a importância nacional e regional do setor olivícola, através de uma caracterização exaustiva do que tem vindo a ser a evolução recente deste setor, bem como um conjunto de indicadores económicos, sociais e ambientais afetos a este setor de atividade. É de destacar a importância dos recentes investimentos na olivicultura moderna, que catapultaram Portugal para o quarto lugar dentro dos países maiores exportadores de azeite e para o sétimo lugar nos maiores produtores mundiais, para os quais muito contribuiu o projeto Alqueva e a enorme revolução produtiva que se tem verificado maioritariamente nesta região do país. Uma nota também para o saldo da balança comercial do azeite, que apresentou entre 2017 e 2020 um valor médio positivo de 231 milhões de euros, contrastando com inúmeros setores produtivos nacionais, que apresentam balanças comerciais altamente deficitárias.
A EDIA elaborou em março de 2020, a pedido do Ministério da Agricultura, um estudo intitulado “Olival em Alqueva: Caracterização e Perspetivas”, que abordou muito dos temas desenvolvidos na presente publicação, tendo servido também como fonte de alguns dados apresentados e que contou com a participação da DGADR, DGAV, DRAP Alentejo e INIAV.
A EDIA destaca algumas das considerações finais do estudo por si elaborado, que revelam a importância crucial deste setor para o país e para o que atualmente é o sucesso do Projeto Alqueva:
- O olival é uma cultura perfeitamente adaptada a uma extensa parte do território nacional, com baixas exigências hídricas e resiliência à irregularidade climática, elevada rusticidade e boa resistência a pragas e doenças, exigindo por isso baixas quantidades de fitofármacos. O facto de ser uma cultura permanente, as boas práticas culturais, como é o caso do enrelvamento das entrelinhas, melhora a estrutura e aumenta a quantidade de matéria orgânica no solo.
- O olival é umas das culturas praticadas na região mediterrânica que menos água consome, sendo as tecnologias de gestão da rega utilizada altamente eficientes.
- O olival tem permitido uma rentabilização dos investimentos públicos e privados realizados em largas regiões do país, destacando-se aqui a região de Alqueva, proporcionando uma rápida e grande adesão dos agricultores ao regadio.
- Portugal passou de uma situação de crónico importador de azeite para exportador, tendo este contributo sido alavancado nos investimentos e produção verificados no Perímetro de Rega de Alqueva.
- O olival gera uma considerável mais valia económica, social e no emprego gerado, existindo um grande investimento em agroindústria ao nível dos lagares instalados, proporcionando a criação de um forte “ambiente” tecnológico afeto ao setor.
- O olival de regadio pode ser desenvolvido de uma forma sustentável e ecologicamente positiva, dependendo das práticas culturais utilizadas.
- É, a par de outros sistemas culturais de sequeiro e de regadio, fulcral no combate à desertificação, criando uma barreira verde permanente e interanual em várias regiões do país, fortemente ameaçadas pela desertificação.
- Capta grandes quantidades de CO2, como cultura permanente que é. Com a massa foliar e de ramos que apresenta, impacta positivamente no cumprimento dos objetivos de política nacional ao nível das emissões/captações de carbono; esta tendência é reforçada com a tendência crescente ao longo dos anos, de aumento dos teores de matéria orgânica do solo.
- Em alguns descritores é necessário aprofundar o conhecimento dos reais impactos da cultura do olival, sendo, contudo, já demonstrável que em determinados parâmeros em análise, esta cultura se revela pouco impactante.
- De forma a potenciar-se os impactos positivos e minimizar e evitar algumas dúvidas que continuam a existir sobre este sistema cultural, será fulcral implementar um conjunto de ações diversificadas, que vão desde ações de sensibilização, de aprofundamento do conhecimento e partilha de dados, até algumas mudanças legislativas e de políticas públicas.
Estamos convencidos que a exigência sobre a atividade agrícola em geral, e sobre o olival moderno em particular, vai ainda aumentar significativamente. O respeito pelos valores ambientais e patrimoniais dos territórios será uma regra que obrigará a alterações nas formas e sistemas de produção. Hoje sabemos que temos de conservar a flora ripícola, mas amanhã a sociedade poderá exigir a sua integração em corredores ecológicos funcionais. Hoje sabemos que devemos fracionar as aplicações de azoto mineral mas no futuro devemos ser conduzidos para utilizar apenas adubação orgânica e a valorização dos resíduos da indústria oleícola para incorporação nos solos jogará um papel crucial.
A pressão da sociedade deverá ainda obrigar ao estabelecimento de distâncias mínimas entre os locais de aplicação de produtos fitofármacos e os núcleos habitacionais. Idealmente tais distâncias deverão ser definidas em função das características orográficas de cada local, da existência de barreiras físicas que possam reter o arrastamento de algum produto, da tipologia da ocupação humana em causa e em articulação com os instrumentos de gestão territorial.
Por fim, a EDIA gostaria de referenciar o facto dos produtores na região de Alqueva, de uma forma geral, terem a preocupação de desenvolver as suas atividades de uma forma sustentável, promovendo a incorporação das melhores estratégias e práticas culturais, no sentido de continuamente se aproximarem deste objetivo. Os modernos olivais incorporam um conjunto de tecnologia notável, quer ao nível da gestão da rega, quer ainda na incorporação dos diversos fatores de produção. Não é assim de estranhar que, face aos dados apresentados no Estudo, o olival tenha a expressão territorial dominante nos perímetros de rega de Alqueva.
Engº José Pedro Salema
Presidente da EDIA