O Professor Fernando Estácio deixou-nos no passado dia 25 de Outubro. Para todos aqueles que, como eu, iniciámos ou desenvolvemos as nossas carreiras profissionais nas áreas do ensino, da investigação ou da aplicação dos conceitos e métodos da economia agrária e da gestão da empresa agrícola, o Professor Fernando Estácio foi e será sempre uma referência chave.
Engenheiro Agrónomo, com uma sólida formação em Matemática e Hidráulica Agrícola, foi no Centro de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian e nas disciplinas de Economia e Administração e Contabilidade do ISA, que ele desenvolveu a sua actividade de investigador e de docente, no âmbito da qual realizou as suas provas de doutoramento e de professor extraordinário, atingiu o título de Professor Catedrático do ISA, UTL e foi jubilado em 1999. Foi a ele que várias gerações de agrónomos, como eu, ficámos a dever uma sólida formação na área das funções de produção, de matemática financeira, dos modelos de programação matemática e da análise benefício custo, cuja introdução nas disciplinas do ISA constituiu uma importante inovação em relação aos conteúdos curriculares até então apresentados. Os muitos artigos e livros de que foi autor ou co-autor e as inúmeras teses de licenciatura e de doutoramento que orientou, constituíram, pelo seu caracter inovador, importantes contributos para o conhecimento técnico-científico nacional na área da economia agrária. Mas é, sobretudo, como amigo e conselheiro de todos nós, seus alunos e colegas na investigação e no ensino, que ele será sempre recordado com imensa saudade. Eu fui aluno dele no último ano do meu curso de Engenheiro Agrónomo, mas já tinha tido a oportunidade de o conhecer quando, a partir do 3º ano de Agronomia, fui trabalhar como tarefeiro no Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian. As suas aulas, no âmbito da Economia da Empresa Agrícola foram para mim um despertar para novos conceitos e métodos de análise que me haviam de marcar para toda a minha vida profissional. Foi sob a sua orientação que fiz o meu trabalho final de curso que teve como tema a elaboração de modelos de programação linear para a Várzea de Samora, cujo relatório final acabou por constituir a minha tese de pós-graduação no Institut Agronomique de Montpellier que frequentei, por sugestão sua, no ano lectivo de 1969/1970. Regressado a Lisboa, foi a ele que fiquei a dever a possibilidade que tive de elaborar para a Junta de Hidráulica Agrícola um estudo sobre o “Desenvolvimento agro-pecuário do aproveitamento do Mira” baseado em modelos de programação linear das explorações agrícolas nele integradas, cuja concretização muito ficou a dever à sua orientação. Depois de ter sido docente nos Cursos de Agronomia e Silvicultura da Universidade de Luanda entre 1972 e 1975, nas áreas da Economia Agrária e de Gestão da Empresa Agrícola regressei a Lisboa em Abril de 1975, tendo entrado para assistente do ISA no ano lectivo de 1976/77. Desde então, toda a minha actividade nas áreas do ensino e da investigação foram feitas em colaboração com o Professor Fernando Estácio, a quem devo tudo aquilo que constitui a base da minha formação nestas áreas, um constante apoio de amigo e de orientador que me levaram à apresentação da minha tese de doutoramento em 1982 e, mais tarde, às provas de agregação e aos concursos para Professor Associado e Catedrático. Foram, até à sua jubilação, em 1999, mais de vinte anos de contacto diário, que constituíram para mim um enorme enriquecimento quer técnico-científico, quer pessoal, que gostaria, neste momento tão triste da sua partida de entre nós, deixar bem expresso nesta minha humilde homenagem. Muito obrigado Professor Fernando Estácio por tudo aquilo que representou para mim e, estou certo, para todos aqueles que, como eu, o foram conhecendo ao longo destas últimas décadas. Francisco Avillez |