Acabaram de ser publicadas as previsões de verão da Comissão Europeia em relação aos mercados dos cereais, das oleaginosas, do leite e lacticínios e das carnes para 2016 e 2017 (Short-term Outlook 2016-17).
Estas previsões sectoriais são precedidas por previsões macroeconómicas que dizem respeito ao crescimento do PIB, às taxas de câmbio e aos preços do petróleo.
No que se refere às previsões quanto ao crescimento económico, elas apontam para uma revisão em baixa da evolução do PIB à escala mundial que se admite agora vir a atingir, apenas, 2,4%/ano em 2016 e 2,8%/ano em 2017.
As previsões para a UE não foram alteradas em relação ao passado recente e prevêem um crescimento do PIB de 1,7%/ano em 2016 e 1,8% em 2017.
Em relação às taxas de câmbio USD em relação ao Euro, cujos valores oscilaram nestes últimos meses entre 1,09 e 1,15, as previsões apontam para que, em média, atinjam um valor de 1,11 em 2016 e 2017 (cerca de 15% abaixo da média dos últimos três anos).
No que diz respeito ao preço do petróleo, que teve o seu ponto mais baixo (30 USD/barril) em Janeiro de 2016 e atingiu os 47 USD/barril em Maio, as previsões da CE apontam para valores entre 41 e 47 USD/barril em 2016 e entre 50 e 57 USD/barril em 2017.
Iremos, neste Notícias AGRO.GES, apresentar o essencial das previsões da CE para 2016 e 2017 relativamente, apenas, aos mercados dos cereais e das oleaginosas, deixando para um próximo número uma abordagem dos mercados do leite e lacticínios e das carnes.
Mercado dos cereais
A CE prevê que a produção de cereais para a campanha de 2015/16 venha a ser elevada, atingindo cerca de 310 milhões de toneladas, o que, sendo cerca de 5,4% inferior à da campanha de 2015/16, será cerca de 5% superior à média das três últimas campanhas. As previsões apontam para que este comportamento positivo irá resultar de aumentos de produção do trigo mole (+14% do que nas últimas cinco campanhas), da cevada (+9%), do triticale (+16%) e do trigo rijo (+3%). No caso do trigo mole, a previsão aponta para uma produção de 152 milhões de toneladas, em 2016, o que irá constituir um novo record.
A França (+9%) e os Países Bálticos (de +30 a +50%) irão ser os principais responsáveis por estes resultados.
Contrariamente aos outros cereais, prevê-se que a produção do milho na UE, em 2016; seja 25% inferior à do ano passado, atingindo o seu nível mais baixo (58 milhões de toneladas) desde 2007/08. Este decréscimo na produção do milho, que se verificou um pouco por toda a Europa, por motivos de natureza climática, atingiu as quebras mais elevadas nos casos da França (-5 milhões de ton), da Roménia (-3,6 milhões de ton), da Hungria (-2,8 milhões de ton) e da Itália (-2,2 milhões de ton).
Em relação à campanha 2016/17, são já conhecidas a quase totalidade das áreas semeadas com cereais que se admite virem a ser, no seu conjunto, ligeiramente superiores à média dos últimos cinco anos (+180 mil hectares), com um aumento significativo das áreas ocupadas por cevada (+362 mil hectares) e trigo (+136 mil hectares) e decréscimos nas áreas do milho (-205 mil hectares) e do trigo mole (-328 mil hectares).
No que se refere às produtividades, as previsões da CE apontam para melhorias em relação à média dos últimos cinco anos, as quais se prevê atingirem +4% para o trigo mole, +12% para o trigo rijo, +7% para o triticale e +6% para o milho.
Neste contexto (área ligeiramente inferior e boas produtividades), prevê-se que a produção de cereais atinja um valor elevado (313 milhões de toneladas), ou seja, +2,5 milhões de toneladas (+1%) do que na campanha de 2015-16. Prevê-se, assim, que a produção de milho na UE volte para valores próximos dos seus máximos históricos, com 65 milhões de toneladas (+12% em relação a 2015/16), enquanto que a produção de trigo mole deverá reduzir-se de 5% (-7 milhões de toneladas) em relação ao ano anterior, se bem que se mantenha 5% superior à média dos últimos 5 anos.
Todas as fontes disponíveis (IGC, USDA e AMIS-FAO) preveem que a produção mundial de cereais tenderá a crescer em 2016 entre cerca de 0,5% a 1,8% em relação ao ano anterior, prevendo-se, assim, uma colheita em 2016/17 próxima do nível record atingido em 2014/15.
No que diz respeito ao trigo mole, as previsões apontam para produções médias de 722 a 731 milhões de toneladas, bastante acima da média dos últimos cinco anos. No caso do milho, as previsões apontam para aumentos, em relação ao ano anterior, de 2,3% a 4,6%, o que significaria uma produção total próxima da atingida dois anos atrás.
Em consequência da evolução da produção verificada este ano, os preços mundiais de cereais mantiveram-se relativamente baixos, prevendo-se que se mantenham assim, durante a maior parte da campanha de 2016/17, ou seja, com valores entre os 150 e os 160 €/ton.
Mercados das oleaginosas
As mais recentes previsões apontam para uma redução na produção mundial de soja na campanha 2015/16, como consequência de condições climáticas adversas no Brasil e na Argentina. Por este motivo, tem-se assistido a uma subida no preço mundial da soja (+16% entre Dezembro de 2015 e Maio de 2016) depois de um ano de preços baixos.
Pelo contrário, a produção de oleaginosas na UE (colza e girassol) foi revista em alta mas, mesmo assim, a produção total deverá atingir, apenas, 31,7 milhões de toneladas (-10% abaixo da campanha 2015/16, mas 4% superior à média dos últimos cinco anos).
Tanto a área como a produtividade da colza tenderão a reduzir-se, o que levará a produção desta oleaginosa a situar-se próxima dos 21,6 milhões de toneladas, 11% abaixo de 2014/15 (produção record) e 5% abaixo da média dos últimos anos.
Por razões climáticas, o girassol sofreu, também, uma redução na produção resultante de uma quebra (-11%) na respectiva produtividade média anual.
Em consequência de condições político-financeiras mais favoráveis, a produção de soja na UE cresceu 24% em relação ao último ano e 76% em relação à média dos últimos cinco anos. Apesar disso a produção de soja na UE continua a ser insignificante (2,3 milhões de toneladas) face à correspondente importação de sementes (12,6 milhões de euros) e de bagaços (20,2 milhões de euros).
Para a campanha de 2016/17, as previsões apontam para uma produção mundial de oleaginosas de 534 milhões de toneladas, ligeiramente abaixo da produção record de 2014/15, o que, no contexto de preços do petróleo relativamente reduzidos, vai conduzir a um aumento dos stocks mundiais e contribuir para níveis de preços mundiais baixos.
Na UE, as previsões apontam para uma ligeira redução da área semeada de oleaginosas (-1,4% em relação a este ano), o que conjugado com as previsões da evolução das produtividades aponta para reduções na produção, que no caso da colza atingirá os -3,5%.
Francisco Avillez