No mês de reflexão sobre como nos transformamos nos últimos 50 anos, fazemos uma reflexão da transformação da sustentabilidade.
É notável que, para alguns, a sustentabilidade ainda é um conceito emergente, embora tenha começado a ser delineada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (UNCHE), realizada em Estocolmo em 1972.
No entanto, para outros, o conceito tornou-se banalizado, perdendo significado e sendo associado ao greenwashing, o que levantou a necessidade de adotar abordagens mais ambiciosas, como a regeneração e “net positive”.
Contudo, na análise desta evolução, o que gostaríamos de destacar é a transição para uma linguagem comum e estratégica, deixando para trás uma tendência de proliferação de referenciais especializados, aplicados apenas a contextos específicos.
Embora estes referenciais tenham o seu valor por captar especificidades de cada atividade e do seu contexto (territorial, económico, …), geravam desafios na falta de padronização e nas exigências de especialização. Nomeadamente, pela diversidade de modelos, normas, fontes de informação, métodos de cálculo e na falta de uma linguagem comum.
A regulação europeia tem contribuído ativamente para definir a prática e adoção desta linguagem comum para a sustentabilidade, promovendo a transparência e a eficiência na comunicação e no report. O que, do ponto de vista externo, potencializa a colaboração e a compreensão mútua entre as organizações, e do ponto de vista interno promove análises e decisões mais informadas, vinculando a sustentabilidade aos objetivos e estratégias das organizações.
Este contributo pressupõe a harmonização de indicadores, que, por sua vez, exige que sejam captadas infinitas realidades de negócio, o que por um lado poderia aumentar a complexidade de medição e monitorização. No entanto, o primeiro passo na adoção destas normas é um exercício de materialidade.
MATERIALIDADE
DETERMINAR O QUE É RELEVANTE PARA O SEU NEGÓCIO E PARA A SUA CADEIA E VALOR (DESIGNADOS “TEMAS MATERIAIS”)
Assim, passamos de uma prática de medir, monitorizar e comunicar uma lista de indicadores pré-selecionados por terceiros para cada referencial, para uma análise interna e profunda que identifica os temas materiais que são verdadeiramente essenciais para cada negócio. Este passo representa uma evolução estratégica significativa, transformando a prática de pensar na sustentabilidade.
A materialidade não é mais que um critério de inclusão de qual é a informação a divulgar pelas organizações. Para determinar a materialidade de uma organização, são utilizados critérios como o impacto e a relevância de temas para o negócio e para os stakeholders (clientes, fornecedores, colaboradores e investidores). O exercício de identificação de o que é material ajuda as organizações a identificar, envolver e compreender as perspetivas dos stakeholders sobre questões-chave, e então refletir sobre a forma como essas questões devem ser abordadas no processo de tomada de decisão.
Expandindo o âmbito para a dupla materialidade, neste processo são considerados também a materialidade dos impactos da organização na sociedade e no ambiente e a materialidade financeira. A dupla materialidade pode apoiar na antevisão e identificação de oportunidades e riscos, uma vez que exige uma análise do ambiente externo da organização.
Para construir uma matriz de materialidade, é recomendável seguir um processo sistemático e lógico, que inclua: a identificação e a priorização dos temas mais importantes para a organização, a avaliação dos riscos e das oportunidades relacionados com esses temas, e a comunicação e envolvimento dos stakeholders num diálogo de alinhamento de estratégias e expectativas.
Em suma, transformar a sustentabilidade numa linguagem comum e estratégica é essencial para traduzir o valor em impactos positivos e tangíveis, a curto, médio e longo prazo. A identificação da materialidade é a abordagem proativa e colaborativa que impulsiona a sustentabilidade na direção de um futuro mais resiliente e responsável. Essa prática é essencial para influenciar a tomada de decisões estratégicas e o impacto nas práticas de gestão das organizações.
Joana Lima
Área de Sustentabilidade